Célio Balieiro por Alexandre Manzan

Célio Balieiro por Alexandre Manzan

Por Alexandre Manzan

No último dia 12, perdi mais que um amigo, perdi um irmão, um paizão. 

Conheci o Célio quando eu estava começando a crescer no triathlon e ele começando a organizar provas. Mas ele não queria provas "normais". Ele sempre quis ser diferente. E no nosso primeiro contato, ele estava criando um Duathlon dentro do Shopping Morumbi! Corria dentro da garagem e pedalava na Marginal Pinheiros, coisa que nessa época dos anos 90, ninguém fazia. 

Depois deste primeiro contato, toda vez que eu vinha para São Paulo (eu moro em Brasília), eu ficava na casa dele. Ali foi o meu segundo lar: Rua Bela Flor. Mas além da hospedagem, Célio fazia questão de me apresentar para todas as marcas que ele tinha contato, o que me possibilitou viver do triathlon. Sem o Celião, talvez eu não tivesse nem ficado no esporte.

Com o crescimento dos eventos, ele fundou a Cia de Eventos e também uma equipe de triathlon, a Tri Basics. A casa dele era um hub do triathlon, passava todo mundo ali, uma galera do bem, saudável e que vivia aquele triathlon raíz, na essência. As pizzadas nesta casa me renderam muitas amizades, pessoas que guardo com muito carinho.

O movimento mais inteligente e importante que o Célio fez e que gerou um boom no triathlon foi a criação de um circuito de long distance. Naquele período, existiam os triathlon curtos e o Ironman, mas pouca prova com distância entre esses dois mundos. Existiam provas esporádicas mas nada fixo e recorrente. E ele foi e, novamente querendo fazer algo fora do padrão, levou uma prova de triathlon para dentro da Academia da Força Aérea, em Pirassununga/SP! Eu falava que ele era louco (risos). Até que ele me ligou dizendo "Manzan, consegui! Vai rolar!" Não tinha como não ir, né?

Depois ele levou uma etapa do Long Distance para Ubatuba/SP e, se não me engano, Rio de Janeiro também. Sempre com premiação boa.


Congonhas ou Cumbica?

Toda vez que eu ia à São Paulo, além da hospedagem, Celião também me buscava na Rodoviária do Tietê. Depois de um tempo ele foi me ensinando a pegar metrô mas sempre que dava, me buscava. Com os patrocínios que conquistamos, eu consegui ir de Brasília para São Paulo de avião e não mais de ônibus.

Aí uma vez eu ia para São Paulo e falei "Celião, to chegando tal hora em Cumbica". Não existia celular na época então deu o horário e ele foi pra lá. Nada de me achar. Eu ligava na casa dele, falava com a esposa e falava que estava esperando ele. Célio ficou umas duas horas me caçando e resolveu voltar para casa, de Cumbica para Vila Mariana. Chegando lá, nos falamos de novo "Po, cara, to aqui sim. Terminal 2.". Aí Célio atravessou a cidade de novo, bateu lá e nada de me achar. Volta pra casa, a gente consegue se falar de novo e a gente descobre o problema: eu estava em Congonhas (risos). Ele foi para lá, me encontrou, eu pedi perdão e ele "Dane-se, bora comer uma pizza". Só o Celião para ajudar os outros assim!

O triathlon deve muito à ele

A entrega, a dedicação e comprometimento dele com as provas era algo absurdo. Ele entrava 200% para entregar aquilo. Ele resolvia pessoalmente as demandas dos atletas. E vi que era tanto comprometimento que ele começou a se descuidar da saúde. 

A galera da nova geração talvez não tenha noção do tamanho do papel que ele teve mas sem esse circuito que ele criou, sem as pizzadas na sua casa e sem o seu empenho, o triathlon não teria se desenvolvido da mesma maneira no Brasil

Obrigado por tudo, meu irmãozão! Você vai fazer muita falta. 


Nota da redação:o texto foi redigido pela nossa redação através de áudios enviados pelo Alexandre Manzan

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