Especial Jan Frodeno: Parte 3
20 de outubro de 2023

3: O caminho de despedida de um ídolo
Começando a temporada de 2019 e com 38 anos, Jan tinha algumas perguntas a responder – seu tempo como melhor atleta da longa distância se foi? Ele ainda poderia competir com os melhores na ‘Big Island’? As perguntas foram respondidas da maneira mais enfática possível. Ele disputou 5 provas no ano e venceu todas! Incluindo os Ironmans 70.3 de Kraichgau e Gdynia e o IM Frankfurt. Era chegada a hora novamente de viajar para Kona.
Frodeno chegou na ilha havaiana em uma forma espetacular e provou que todos os que duvidaram dele estavam errados. Fez a natação em 47:31 (saindo da água no primeiro pelotão) e pedalou em 4:16:02 (saindo da T2 com uma vantagem de 1 minuto e meio) com uma maratona indiscutível de 2:42:43 (pace de 3:42 min/km) para terminar com os extraordinários 7:51:13, batendo o recorde da prova em Kona. Frodeno finalmente conseguiu seu hat-trick e se tornou o 5º atleta masculino a ganhar 3 vezes o Mundial de IM.
“Kona é o Wimbledon do nosso esporte e é uma ótima sensação correr neste percurso depois de caminhar em 2017”.
Foto: Spomedis Sports
Quando se fala de atletas que têm um legado de consistência ao longo do tempo no triathlon, vêm à mente nomes como o hexacampeão mundial Dave Scott, o hexacampeão mundial Mark Allen e a oito vezes campeã mundial Paula Newby-Fraser. O que diferencia Frodeno são suas décadas de domínio em diferentes distâncias de corrida e sua capacidade de estabelecer padrões de excelência na era do esporte pós-olímpico, indiscutivelmente mais competitivo.
Após um ano sem provas devido à Pandemia de COVID-19. Em julho de 2021 foi promovido o Zwift Tri Battle Royale. Onde enfrentou o canadense Lionel Sanders em um duelo com um percurso otimizado para velocidade (incluindo curvas inclinadas), Frodeno cruzou a linha de chegada em um tempo surpreendente de 7:27:53. Não dando a menor chance a Sanders. Neste ano, Frodeno também faturou a Collins Cup.
Veio o ano seguinte e mais uma vez o quadril do triatleta o atrapalhou. Em uma postagem honesta no Instagram, ele contou que está lutando contra a lesão que simplesmente não cicatriza e que teve que desistir do Campeonato Mundial de Ironman de Kona 2022. “Vou tirar uma folga, me recuperar bem disso, ver como vão as cirurgias e depois vir recarregar as baterias com minha família e me instalar na nova casa que temos em Andorra. Há muitas coisas acontecendo, muitas coisas que estou ansioso para explorar e o capítulo final da carreira esportiva é o lado positivo que tiro disso”.
Já eram os sinais de uma possível despedida ao esporte. Depois de quase um ano longe das provas se recuperando da lesão no tendão de aquiles e já com sua aposentadoria anunciada. "A lesão me deu uma pausa de alguns meses muito difíceis e a oportunidade de reiniciar e planejar o que acho que serão meus últimos 14 meses neste esporte. Agora é hora de pausar, redefinir e começar de novo”.
Frodeno de volta ao jogo
O atleta voltou a largar em maio deste ano, no Campeonato Europeu da PTO, terminando em uma boa 4ª colocação. Um mês depois, no fatídico Ironman Hamburgo, ficou na mesma posição. Frodeno volta - ao habituado - lugar mais alto do pódio quase 23 meses depois, no IM 70.3 Andorra, correndo praticamente no quintal de casa, já que mora e treina no país de 80 mil habitantes. Mas ele queria mais, em agosto foi a Milwaukee nos EUA para largar no PTO US Open, em um start list fortíssimo (incluindo Kristian Blummenfelt, contra quem correria pela primeira vez). O jovem de 41 anos mostrou como é que se faz, não tomou conhecimento dos adversários na corrida, venceu a prova e a disputa com o campeão olímpico norueguês, que sofreu cãibras no quadríceps no início da corrida.
Foto: Professional Triathletes Organization (PTO)
Mundial de Nice e a última dança
Era chegada a hora do atleta de 42 anos se despedir do esporte e a mídia esportiva mundial de triathlon não falava de outra coisa. Frodeno foi para o seu quinto mundial deixando claro na entrevista que deu ao Bob no Breakfast with Bob, que preferia Kona, e que Nice era um percurso muito duro, mas que daria o seu melhor. “Neste percurso, para mim, é um desafio enorme e é também o que me mantém motivado, é tudo o que eu poderia pedir da última dança e sinto que meu corpo está pronto. No percurso de ciclismo, o que sobe tem que descer e gosto de me considerar um dos melhores tecnicamente, gosto de uma boa descida. Além disso, depois ainda temos uma maratona completamente plana e rápida no final, o que é algo pelo qual estou ansioso.”
Depois de iniciar os preparativos para a prova nas montanhas de Andorra, Frodeno seguiu para Nice. Frodeno parecia relaxado e pronto, mostrava que era um atleta que estava mais entusiasmado do que nervoso naquela que seria sua última oportunidade de conquistar outro título mundial.
O que vimos foi ele sair do ritmo depois dos brutais primeiros quilômetros do ciclismo pelas montanhas da Cote d'Azur. Acabou desgarrando dos primeiros pelotões e depois prejudicado por uma lesão, Frodeno mais uma vez se recusou a desistir. Em vez disso, ele beijou sua família no T2 antes de partir para a maratona final de sua carreira, mergulhando de cabeça naquilo que seria sua última corrida como profissional. Nos 42kms Jan foi acolhido e festejado pelo público em Nice.
Quando cruzou a linha de chegada do Campeonato Mundial em 8:48:42, ficando na 24º colocação, encerrou uma carreira profissional de 22 anos ganhando os aplausos do público, como merecia.
“Foi uma jornada incrível. Entrei pela última vez com os gladiadores na arena e o leão me pegou. Mas está tudo bem. Morri fazendo o que amo, então sou um cara feliz. Amanhã, e nos próximos meses, vou refletir sobre tudo que aconteceu nesta jornada incrível. Parabéns ao Sam (Laidlow). Um campeão mundial digno. Obrigado a todos pelo apoio.”
Foto: Graham Shaw (tri247)
Todos nós que amamos o triathlon nos sentimos órfãos por algum instante naquele dia. É hora de o primeiro homem a ganhar uma medalha de ouro olímpica e um Campeonato Mundial de Ironman (só ele e Blummenfelt conseguiram este feito) aproveitar a esposa Emma Snowsill (neozelandesa que foi também triatleta, inclusive ganhando a medalha de ouro olímpica em Pequim 2008) e os filhos, Lucca, de 7 anos e Sienna, de 5.
Em entrevista recente ele disse quais foram as 3 maiores provas de sua carreira:
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Beijing 2008 “Onde tudo começou”
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Kona 2019: “Eu tinha a sensação de estar ganhando aquilo pela última vez”
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PTO US Open 2023: “Eu estava de corpo alma na prova, ganhar ali foi especial”
Frodeno ganhou tudo o que poderia ganhar no triathlon, em todas as distâncias. Ganhou também o apelido de GOAT (o melhor de todos os tempos, em inglês) merecidamente. O grupo de GOATs esportivos recebe mais um membro: com Pelé, Michael Jordan, Michael Phelps, Tom Brady, Ayrton Senna e agora, Jan Frodeno.
(ARTE LUCAS)
Diogo Oliveira Editor-Chefe MundoTri
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